Sara Fatia foi internacional
(bisou no jogo de estreia), disputou um Campeonato do Mundo e um Mundial
Universitário. Foi campeã nacional, ganhou todas as provas nos distritos de
Coimbra e Aveiro. Colocou um “ponto final” numa carreira de amplo sucesso e
agora começa o seu caminho como treinadora. Embaixadora da Academia desde 2014,
pertence, há duas épocas, ao corpo técnico da equipa feminina. Sara Fatia é uma
referência no seio do projecto Acreditar no Futsal e dinamiza, a par de Marlene
Laundos, o projecto de sucesso “Duas de Letra”
Já tem saudades de jogar?
Curiosamente não. Só pontualmente, quando não consigo que as atletas
façam o que estou a pedir ou não estou a transmitir bem a mensagem é que me
apetece saltar para dentro da quadra e explicar na prática.
Qual a maior dificuldade que
sentiu quando resolveu colocar um ponto final na carreira?
Para falar a verdade não senti dificuldade nenhuma. Foi uma decisão
ponderada e estava bastante claro na minha cabeça que o queria fazer.
Quanto brincava com os amigos,
sonhava trilhar a carreira que veio a fazer?
Não. Na realidade nunca pensei que pudesse ter a carreira que tive.
Temos sempre aqueles sonhos de miúdos em que queremos ser como alguns dos
nossos ídolos. Mas sempre tive uma perceção de que era um hobbie que eu levava
muito a sério.
Campeã nacional pelo Novasemente em 2014/2015
Gostava de ter sido profissional
de futsal?
Claro que sim. Sendo uma apaixonada pela modalidade claro que gostaria
de ter tido a oportunidade de respirar futsal 24 horas por dia. Se isso teria
tido influência na minha carreira? Talvez apenas a nível de performance
individual porque o empenho, a dedicação, o compromisso e a mentalidade
competitiva que sempre tive não se iriam alterar.
Como se sentiu ao jogar ao lado
(e contra) as melhores do país e do mundo?
Pequenina e ao mesmo tempo afortunada. Numa hora estás a ver vídeos no
Youtube de algumas atletas e na outra estás a jogar ao lado e contra elas. No
início, estranhamos um pouco que aquele momento seja realidade, temos aquele
friozinho na barriga de nervosismo, mas quando a bola começa a rolar tudo
desaparece e só queremos dar o nosso melhor.
Campeonato do Mundo (Oliveira de Azeméis 2012)
Estreia-se na selecção na Rússia
e com dois golos. Recorda este dia muitas vezes?
Foi surreal. Nem nos meus maiores sonhos poderia imaginar uma estreia
assim. Lembro-me perfeitamente de todos os pormenores desse dia, tenho
inclusivamente o resumo desse jogo guardado religiosamente. Além de ser a minha
estreia com a camisola da seleção, os astros alinharam-se para que na primeira
vez que toco na bola, marcasse golo, fazendo com que nem eu própria quisesse
acreditar no que estava a acontecer.
Qual a melhor recordação que tem
do Mundial em Oliveira de Azeméis e do Mundial Universitário em Braga?
Tendo ambos sido realizados em Portugal, o que melhor recordo é o
público. Pavilhões completamente a abarrotar e com uma atmosfera eletrizante.
Cantar o hino juntamente com mais 2.000 pessoas é um sentimento indescritível.
De que forma considera
importante a vertente universitária na evolução das atletas?
É a minha opinião muito pessoal de que todas as atletas deveriam passar
por uma experiência universitária. Ajuda-nos a relativizar um pouco as coisas,
o desporto, a modalidade e a vida no geral, defendemos uma instituição em
competições normalmente curtas mas que são marcantes na nossa identidade
enquanto atletas e cidadãos. É mais um momento competitivo que nos ajuda a
crescer e a evoluir. Criamos um sentimento de pertença em conjunto com os
nossos pares e que fica para todo o sempre impresso no nosso ADN.
Foi campeã nacional, venceu tudo
a nível distrital em Coimbra e Aveiro. Ficou algo por conquistar?
Inevitavelmente que terei que referir a final da Taça de Portugal que
perdi no último segundo em Sines em 2015. A Taça de Portugal é uma prova
especial, carinhosamente de tratada como a prova rainha e sendo uma prova
composta por eliminatórias é muito difícil chegar à final. Tendo lá chegado e
tendo perdido daquela forma foi duro, mas foi também uma aprendizagem enorme.
Teve alguma jogadora como
referência enquanto atleta?
Gostava muito da Sofia Vieira e da brasileira Ju Delgado.
Melhor jogo e melhor golo que
marcou?
Melhor jogo não sei se foi, mas é com toda a certeza o jogo que me
ficou na memória até hoje. Vilaverdense-Golpilheira para a Taça Nacional em
2011/2012, curiosamente no meu dia de aniversário. Marquei quatro golos nesse
jogo dos quais três foram de livre de 10 metros. Golos não tenho nenhum que
mereça destaque, são todos fantásticos desde que a equipa ganhe. Se a equipa
não ganhar só alimentam o ego, não mais do que isso e passam a ser
irrelevantes.
É, desde 2014, Embaixadora da
Academia de Condeixa. Deixou-a orgulha o reconhecimento de um clube de fora do
seu concelho de residência?
O primeiro impacto foi de surpresa, porque era algo com o qual não
contava. Depois veio o orgulho e a responsabilidade de ser a cara de uma
instituição pela qual nutria tanto carinho, composta por pessoas fantásticas e
que sempre me acompanharam e esse é o maior prémio que podemos levar da
carreira.
Encontro Ibérico (Mira, 2016)
Por curiosidade, foi capitã e
homenageada no primeiro jogo realizado pela Academia, num Encontro Ibérico em
Mira e actualmente integra os quadros técnicos. Uma relação feliz?
Muito feliz. Uma relação duradoura e que me preenche. Acompanho a
Academia desde a sua génese e é com muito orgulho e dedicação que recebi o
convite para fazer parte dos quadros técnicos. Ainda há muito para crescer e
para evoluir. Crescemos juntos.
Até onde sonha chegar como
treinadora?
Sonho chegar ao topo dos topos do futsal feminino. Gostava de fazer do
futsal a minha vida profissional, mas tenho plena noção de que é um sonho
difícil. Mas não impossível. Tenho os pés bem assentes na terra, sei que é
apenas o meu segundo ano como treinadora e tenho muito ainda para aprender e
evoluir.
Num ano atípico, em 2019/20, o
NSC/Academia foi bicampeão de juniores femininos, vice-campeão da Divisão de
Honra e finalista da Taça AFC. Balanço positivo?
Claramente positivo. Renovámos o título de campeãs distritais nas
juniores e estivemos em todos os momentos de decisão nas seniores. Mesmo não
tendo ganho foi extremamente importante para o crescimento das atletas e do
clube.
Academia 2020/2021
Como tem sido gerir o grupo esta
época na qual a equipa tem duas vitórias na Taça de Portugal e tem estreia
prevista para Maio?
Tem sido uma tarefa extremamente complicada. Não é fácil preparar uma
época carregada de expetativas dados os resultados obtidos na época transata e
depois ver constantemente o período competitivo adiado. Tentar manter o grupo
unido e motivado para o que possivelmente virá tem sido um desafio hercúleo
tanto para as atletas como para a equipa técnica.
Qual é a importância do
Acreditar no Futsal para a si, em particular, e para a modalidade, em geral?
O Acreditar no Futsal tem um lugar muito especial no coração. É para
mim um privilégio fazer parte desta família e há tantos anos e é com todo o
gosto que colaboro e participo numa causa tão nobre, seja dentro ou fora da
quadra. O Acreditar no Futsal já faz parte do calendário desportivo regional e
nacional. É um dia especial em que independentemente do clube a que pertençam
todos somos da mesma equipa e todos tentamos dar o nosso contributo em prol da
causa da Acreditar.
Sara Fatia homenageada na edição 2019 do Acreditar no Futsal
“Duas de Letra” é um projecto
recente e com sucesso. Como surgiu a ideia e como tem sido o feedback dos
amantes do futsal?
A ideia na realidade partiu da Marlene Laundos que me desafiou para ser
“co-podcaster”. A ideia do projeto é ser um espaço de partilha descontraída
entre amantes da modalidade. Contar histórias e falar sobre as nossas
experiências pessoais de forma informal e divertida. O feedback tem sido
positivo, o público tem aderido e tem gostado dos episódios.
BI
Nome: Sara Fatia
Data de Nascimento: 1 de Maio de 1987
Local: Figueira da Foz
Clubes: S. Tomé, Vilaverdense, Novasemente, Restauradores Avintenses,
Louriçal e Ourentã
Palmarés
Internacionalizações: 8
Golos pela Selecção: 3
Futsal Federado
S. Tomé: Campeã Distrital Coimbra (2001/02), Taça Encerramento
(2000/01, 2003/04 e 2005/06) e Taça AFC (2004/05 e 2008/09).
Vilaverdense: Campeã Distrital Coimbra (2010/11 e 2011/12) e Taça AFC
(2010/11) e Supertaça Distrital (2010/11).
Novasemente: Campeã Distrital Aveiro (2012/13), Taça AF Aveiro
(2012/13), Supertaça Distrital (2012/13), subida ao Campeonato Nacional
Feminino (2012/13), finalista da Taça de Portugal (2014/15) e Campeã Nacional
Feminina (2014/15)
Ourentã: Vice-campeã distrital (2017/18), Taça AFC (2017/18), Final 4
da Taça Nacional e subida ao Campeonato Nacional Feminino (2017/18).
Selecção Nacional: Medalha de Prata no III Mundial de Futsal Feminino
(Oliveira Azeméis 2012) e 1º lugar do Torneio Internacional de Moscovo (Maio,
2012)
Futsal Universitário
Académica
Vice-campeã nacional universitária (2011 e 2013) e Campeã
nacional universitária (2012 e 2014).
Medalha de prata no Europeu 2012 (Córdoba - Espanha) e Medalha de
bronze nos Europeus de 2011 (Tampere - Finlândia) e 2014 (Roterdão - Holanda).
Melhor jogadora, melhor marcadora e 5 ideal do Europeu 2012 (Córdoba).
Melhor Atleta Feminina na Gala da FADU 2012.
Selecção Nacional: Medalha bronze no Mundial Universitário Braga 2012.
Outros
- Disputou o I Campeonato Nacional de Futsal Feminino 2013/14
(Novasemente)
- Embaixadora da Academia de Futsal de Condeixa (4 de Julho de 2014)